Na mesma linha das reflexões que venho propondo nos artigos sobre Coerência entre Prática e Discurso e Conformidade Legal, quero propor um novo diálogo, desta vez dirigido para profissionais e empreendedores do varejo. A proposta é abordar tanto os riscos quanto as oportunidades do ESG, buscando ir além de qualquer modismo que estas três letrinhas podem sugerir.

Para começar, vamos esclarecer dois pontos: o primeiro, para quem o ESG ainda possa ser uma novidade, envolve lembrar que a sigla diz respeito às iniciativas estratégicas envolvendo as dimensões Ambiental (Environmental, o E da sigla original em Inglês), Social e de Governança com o propósito de promover mais sustentabilidade para o planeta, a sociedade e também para os negócios. Utopia? Muita gente, assim como eu, acredita que na verdade isso é bem possível!

O segundo ponto, ainda mais importante, é que apesar da maior parte dos conteúdos na internet, e fora dela, relacionarem esse tema com as grandes organizações e redes varejistas, iniciativas de ESG contribuem para sustentabilidade para negócios do varejo, de todos os portes. Portanto, esse diálogo com certeza diz respeito ao seu negócio também.

Colocados estes dois pontos, vamos falar um pouco sobre os riscos de não agir, tentando ignorar algo que já não pode ser visto como um modismo e sim como uma tendência do mercado.

Riscos de se ignorar uma tendência

Sabe-se que profissionais e empreendedores do varejo precisam ter um bom faro para distinguir o que é uma “simples moda” daquilo que se apresenta como tendência; afinal, depende-se dessa capacidade para decidir investir, ou não, numa determinada tecnologia, novo ponto, no estoque de uma mercadoria, e isso também vale para adoção das iniciativas de mudanças como as que são propostas pelo ESG.

Um “detalhe” que se precisa ressaltar, em relação à adoção ou não destas iniciativas, é que o varejo, seja no ponto físico ou ambiente virtual (e-commerce), possui a característica de estar diretamente conectado com o consumidor; por isso mesmo as cobranças, especialmente nas posturas ambientais e sociais, podem ser muito mais imediatas e sentidas diretamente no resultado de vendas, como o que vimos no caso da varejista Zara, ocorrido em 2011.

Ignorar a tendência que se observa de consumidores cada dia mais conscientes e engajados com temas relacionados às responsabilidades sócio-ambientais pode colocar em risco tanto os resultados financeiros quanto o valor da marca, algo muito mais difícil de ser reconstruído.

Para além do desafio de atender clientes mais exigentes em relação ao posicionamento das marcas que consomem, a gestão das equipes no segmento varejista também envolve riscos já bem conhecidos. Há, ainda hoje, um grande volume de processos trabalhistas, incluindo um crescente número de denúncias envolvendo o assédio moral e até sexual, especialmente envolvendo profissionais em cargos de gestão ou liderança. Situações que podem ser potencializadas pela ausência de instrumentos (artefatos) de gestão como um Código de Conduta ou regras claras sobre papéis e responsabilidades de cada profissional, documentadas em Contratos de Trabalho mais assertivos e expostas em programas de integração mais ágeis e efetivos.

Um último ponto de atenção sobre os riscos envolve as relações de parcerias e negócios com fornecedores, afinal já ficou evidente que erros sócio-ambientais e de gestão nos negócios (governança) produzidos por parceiros ou fornecedores podem impactar negativamente nos negócios do varejista. Contratos pouco claros e até a ausência de exigências legais de obrigação por parte de quem contrata um serviço ou fornecimento pode acarretar na responsabilização compartilhada, seja legal ou socialmente (aos olhos de consumidores e colaboradores).

Diante desses riscos é importante reconhecer as oportunidades que dependem de ações concretas e conscientes por parte de profissionais e empreendedores do varejo.

Oportunidades na prática do ESG

Você já deve ter percebido que a grande maioria dos riscos envolvem a não ação, o ato de ignorar um mercado consumidor e uma força de trabalho que exigem mais coerência entre a prática e o discurso, além de transparência na comunicação e relações de trabalho. Por isso, apresento aqui três oportunidades com cara de dicas, claras e diretas, do que pode ser implementado no seu empreendimento de varejo, independente do tamanho, gerando bons resultados:

Em primeiro lugar, comece fazendo a “lição de casa”, focando nas dimensões Social e de Governança para melhorar a gestão da equipe. Um primeiro passo é rever a maneira como são descritos os papéis e responsabilidades de cada profissional da equipe, o que pode envolver uma revisão da sua estrutura ou ainda a elaboração de um Código de Conduta que alinhe as práticas para que se chegue ao pleno potencial das equipes e do negócio. Afinal, como sempre digo: apenas com regras claras é que se pode cobrar o melhor desempenho de quem está no jogo. Códigos de Conduta, regimentos e o alinhamento dos contratos de trabalho garantem transparência e a possibilidade de implementar uma gestão por competências, baseada em objetivos e resultados claros.

Depois de organizar a casa, e quem sabe transformar cada gerente, vendedora, vendedor, caixa e estoquista em embaixadores da marca e do negócio, a segunda dica é olhar para as relações de parceria com fornecedores; voltamos à dimensão de Governança, revendo contratos e acordos, garantindo a sustentabilidade de todos os negócios envolvidos na cadeia produtiva e o alinhamento de melhores práticas sócio-ambientais, a fim de garantir a segurança jurídica do seu negócio e também dos parceiros.

Por fim, diante deste alinhamento com colaboradores e fornecedores, ficará mais simples reconhecer o potencial de implementar iniciativas de impacto social e ambiental que contribuirão tanto para o crescimento do negócio quanto do valor da marca, graças ao reconhecimento do seu público consumidor. Estamos falando de iniciativas relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODSs, como promoção da saúde e bem-estar, educação de qualidade ou ainda da equidade de gênero, até o consumo e produção responsáveis, entre outras possibilidades.

É importante ressaltar que a tendência das iniciativas em ESG vieram para ficar e impactam todos os segmentos de negócios, inclusive o varejo, e que as melhores práticas propostas não apenas diminuem diversos riscos como representam, de fato, a oportunidade do negócio se desenvolver e lucrar de maneira mais sustentável.

E aí, o diálogo despertou sua curiosidade? Você pode saber mais em nossa breve apresentação, ou podemos marcar um café para conversarmos sobre oportunidades que cabem para o seu negócio; basta entrar em contato com nosso Coletivo de Integridade Organizacional aqui.

Texto publicado originalmente em 01/04/2022 no perfil do autor no LinkedIn (https://www.linkedin.com/in/rgiulianos)